terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O relatório do detetive Duran



O relatório do detetive Duran era curto , objetivo e levou à elucidação do crime . Ele descrevia detalhadamente a cena, motivação e circunstâncias : o assassino abrira repentinamente a porta do escritório da casa – um dormitório , adaptado- dera dois tiros à queima-roupa na vítima , que estava de costas, em pé, depois, retirou-se, tendo,antes, o cuidado de fechar a porta.
A vítima não morreu na hora. Levantou-se com esforço e tentou abrir a porta, sem sucesso. Rastejou, então, até o lado oposto e conseguiu sentar-se à escrivaninha, onde, minutos depois, não resistindo aos ferimentos, faleceu.
As análises feitas pelos policiais da equipe D, da delegacia central, ratificavam as informações fornecidas pelo detetive Duran. Os exames revelavam pingos de sangue perto da porta, local onde a vítima caíra, ao impacto dos tiros. Marcas alongadas e respingos, em uma extensão de cerca de dois metros, a partir dali , indicavam o rastro deixado por ele até a escrivaninha. Suas digitais na maçaneta interna evidenciavam os esforços para abrir a porta, por dentro.
Os demais estudos periciais indicavam, além da posição da vítima quando levou os tiros ( de costas, impossibilitando-a de ver o agressor ), que a morte ocorrera no início da noite anterior , dado que constava do relato do detetive Duran.
O crime só fora descoberto por volta de 11 horas do dia seguinte, pela empregada da casa. Ela estranhou o fato do patrão, que costumava já estar no escritório quando ela chegava de manhã para o trabalho, não ter saído dele até aquela hora. Ela disse, em seu depoimento, que bateu na porta, chamou várias vezes , não obtendo resposta. Como a porta estava trancada, o que era usual quando o patrão estava no escritório, e levando-se em conta que a vítima morava sozinha, decidiu chamar a polícia.
O relatório do detetive Duran não tinha, portanto,nenhuma divergência com relação ao resultado das investigações posteriores. Trazia, contudo, informações mais precisas , que levaram à elucidação do caso.
Revelava, primeiramente, que a vítima tinha uma ex-namorada- um caso antigo, encerrado sem que fosse oficializado e conhecido por ninguém.. A mulher a vinha importunando nos últimos meses para que lhe desse algum tipo de compensação financeira pelo rompimento. Informava, também,que esta pretensão vinha sendo motivo de brigas freqüentes e cada vez mais violentas, principalmente depois que a vítima manifestara o desejo de ligar-se a outra mulher. O relatório do detetive Duran mostrava, assim, quem era o primeiro e principal suspeito do crime.
O relatório do detetive Duran confirmava que a vítima não pudera ver o atirador, mas dava a pista mais importante para sua identificação:a porta do escritório fora aberta e depois trancada por fora e a maçaneta era do tipo que trava por dentro. Assim, quem estivesse na parte externa, só poderia abri-la ou travá-la usando chave. O criminoso, portanto, era alguém que possuía a chave do escritório. E o detetive Duran deixava bem claro que só uma pessoa, além da vítima, incluía-se no caso: a ex-namorada.
Encontrada e pressionada horas depois pelos policiais da equipe D, a mulher acabou caindo em contradições e confessando o crime.
O relatório do detetive Duran, fundamental para esclarecimento do caso, fora escrito, às pressas e dolorosamente, na escrivaninha onde o encontraram morto aquela manhã. O detetive Duran elucidara seu próprio assassinato.